O romance NOROESUTE TETSUDO e os okinawanos de Campo Grande

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O romance NOROESUTE TETSUDO e os okinawanos de Campo Grande

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Capítulo 3: Os descendentes de okinawanos de Campo Grande
              Toda vez, desde que vim ao Brasil, me deparava com uma situação inesperada no dia a dia ou no trabalho, lembrava de Okinawa.
              Capítulo 3: Os descendentes de okinawanos de Campo Grande
              Toda vez, desde que vim ao Brasil, me deparava com uma situação inesperada no dia a dia ou no trabalho, lembrava de Okinawa.

01. História da Cidade de Campo Grande

A história da Cidade de Campo Grande começa com a construção conjunta de um pequeno arraial chamado Santo Antônio de Campo Grande por José Antônio Pereira e Manoel Vieira de Sousa em 1877. Em 26 de agosto de 1899, o arraial foi emancipado oficialmente pelo governo do Estado de Mato Grosso para município de Campo Grande.

Depois que a Estrada de Ferro Noroeste, que liga Porto Esperança e Três Lagoas, fica pronta em agosto de 1914, desenvolvendo-se como ponto estratégico que liga os estados de São Paulo e Mato Grosso, onde se concentram os suprimentos, sendo elevado a categoria de Cidade em 1918.

Com o estabelecimento da Estrada de Ferro Noroeste, surgiram, dentre os japoneses que tomaram parte da obra da construção da estrada de ferro, pessoas que se se estabeleciam em Campo Grande, seja se tornando funcionários da Companhia Ferroviária, seja fornecendo lenha e dormente de forma autônoma, além de pessoas que cultivavam nas fazendas ao redor com o capital acumulado tendo trabalhado como operários da obra.

A população de Campo Grande por volta de 1914 era cerca de 1.800 pessoas e foi crescendo rapidamente para cerca de 5.600 em 1922 e cerca de 13.000 pessoas em 1932. Uma das razões seria a transferência do Quartel General da 9ª Região Militar do Brasil, tornando-se ponto estratégico importante do país. Ao mesmo tempo, a população japonesa que era de 200 pessoas (50 famílias) na década de 1920, cresceu significativamente em 1927 para 897 pessoas (223 famílias), sendo a maioria de emigrantes okinawanos. Acredita-se que isso ocorreu devido ao aumento da emigração por convite à terra natal, o crescimento da família pelo nascimento de crianças e a migração de pessoas de colônias que estavam crescendo. Além disso, começa a construção de arranha-céus na década de 1930 e Campo Grande, que era chamado de “Pistola Calibre 44”, onde feras e animais selvagens caminhavam como os donos da terra, se desenvolveu tornando-se numa das mais notáveis grandes cidades do país.

02. Os emigrantes okinawanos que se assentaram em Campo Grande

Quando as obras da construção da Estrada de Ferro Noroeste terminaram em 1914, parte dos emigrantes okinawanos que participaram da construção se estabeleceram em Campo Grande. Dizem que Kosho YAMAKI e Itiei MIYAHIRA foram os primeiros iniciando o cultivo de verduras na Rua Dom Aquino. Depois, o casal Kamado e Uto OSHIRO, Jiro OSHIRO, Gentai HOKAMA, Toku AKAMINE e Kame AKAMINE compram em conjunto terras em Chacrinha, passando a trabalhar com horticultura. Na sequência, os emigrantes do KASATO-MARU de 1915, Kisa AKAMINE, Ushi HOKAMA e Toku AKAMINE também compram terras em conjunto, cultivando arroz, milho e verduras.

Gonsiro NAKAO, Kosuke GUENKA e Zenei NAKAO, que emigraram de Haneji-son para o Peru, assentam-se na Mata do Segredo em 1917, cultivando café, banana e cana-de-açúcar. A Colônia Bandeira, iniciada por Tokichi ARAKAKI e Seiko YONAMINE, originários de Ozato-son, em 1918 ficava próxima à área urbana e como além do cultivo de verduras tinham criação de porcos e galinhas, se desenvolveu sendo chamado de Cozinha de Campo Grande.

Os emigrantes okinawanos fizeram esforços pela educação dos jovens e em 1918 fundam a Escola de Língua Japonesa Hanjya em frente à Estação Campo Grande. A escola mudou de endereço e passou a ser chamada de Escola Japonesa que também ensinava a língua portuguesa. Depois, com a ascensão do nacionalismo e o tratamento discriminatório aos imigrantes japoneses, em 1927 a denominação da escola foi mudada para Escola Visconde de Cairu, utilizada até os dias de hoje.

As colônias criadas até 1930 ao redor de Campo Grande

1914 Chacrinha ※
1917 Mata do Segredo
1918 Bandeira ※
1920 Imbirussú ※
1924 Mata do Prosa ※
1925 Cascudo ※
1926 Mata do Ceroula
1927 Rincão
1929 Buracão
*Hoje, as regiões de Chacrinha, Mata do Segredo, Bandeira, Imbirussú, Mata do Prosa e Cascudo fazem parte da cidade de Campo Grande.

03. O desenvolvimento da organização okinawana de Campo Grande

Fundação da Associação da Comunidade Japonesa em Campo Grande

Kosho YAMAKI, que se radicou em Campo Grande em 1914, abre um hotel. Pregando a necessidade de uma entidade japonesa, é inaugurado em 1916 a Associação da Comunidade Japonesa em Campo Grande, tornando-se seu primeiro presidente. Houve um momento de interrupção das atividades durante o caos da guerra, mas se reorganizando após a guerra, mudando a denominação para RENGO NIHONJINKAI (Associação Japonesa Unida) em 1957, Associação Esportiva Nipo-Brasileira em 1960 e Associação Esportiva e Cultural Nipo-Brasileira em 1962, mantendo suas atividades até os tempos atuais.

Cooperativa de Produtores de Bebidas Alcoólicas de Campo Grande

Em 1919, Gonsiro NAKAO e companhia constroem a primeira destilaria de pinga que tem como matéria-prima a cana-de-açúcar na Mata do Segredo. Não eram poucas as pessoas que eram confortadas pela bebida numa terra distante de sua terra natal, e como o sabor da pinga era bom, fez sucesso também entre os brasileiros. Mais tarde, mais de dez destilarias de pinga foram construídas no entorno da Mata do Segredo e em 1932 foi fundada a Cooperativa de Produtores de Bebidas Alcoólicas (tendo Takemori OSHIRO com o primeiro presidente). Porém, as vendas caem em 1939 após a construção de uma destilaria de grande porte por um brasileiro e em 1940 a cooperativa se desfaz.

Cooperativa da indústria de Campo Grande

OEm 5 de maio de 1935 é fundada a cooperativa da indústria, tendo Takemori OSHIRO como seu primeiro presidente. Com a participação de 152 associados, Gonsiro NAKAO foi eleito para a contabilidade. No seu início não tinham instalações próprias e utilizavam o armazém, as beneficiadoras de arroz e café de propriedade de Gonsiro NAKAO. O armazém é transferido para o terreno da cooperativa em 1941 e após superar a grande estiagem de 1944 arrumaram o equipamento de beneficiamento de arroz e do café. Cria o departamento de compras em 1954, trabalhando com utensílios agrícolas, pesticidas, fertilizantes e sementes até os dias de hoje.

Associação Okinawa de Campo Grande

A Associação Okinawa de Campo Grande do pré-guerra foi fundada em 1922 tendo Kamé CHINEN como primeiro presidente. Ajudar os pobres e doentes das colônias, fundar escola primária, melhorar a imagem dos okinawanos em relação aos brasileiros, cultivar o espírito japonês e promover a imigração por chamado eram parte dos objetivos de sua fundação, ou seja, se uniram para educar os jovens e melhorar a vida nas colônias. Depois, em 1926 foi fundada a KYUYO KYOKAI, entidade que se estendia pelo Brasil, e a associação de Campo Grande foi reorganizada como sua sucursal. Como primeiro presidente foi escolhido Kasuke SHIROMA, que não mediu esforços para resolver o preconceito contra os okinawanos e questões irregulares por parte dos agentes intermediários da imigração a chamado dos já emigrados.
Porém, com a eclosão da 2a Guerra Mundial, os grupos japoneses tiveram suas atividades limitadas até a sua paralisação em dezembro de 1941. Após a guerra, a associação okinawana retoma as atividades em 1953.

04. Campo Grande e a província de Okinawae

Tratado de co-irmandade entre o estado de Mato Grosso do Sul e a província de Okinawa

Quando o Governador Junji NISHIME visitou São Paulo em agosto de 1978, Diogo NOMURA., deputado federal da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil, sugeriu a irmandade para reforçar as relações de amizade entre a província de Okinawa e o Brasil. Assim, a Associação Okinawa Kenjin do Brasil estudou qual ente poderia fazer a coligação e a conclusão foi que o estado de Mato Grosso do Sul, recém desmembrado do estado e Mato Grosso onde há muitos okinawanos, foi escolhido como candidato.
 No dia 22 de abril de 1986, Ramez Tebet, vice-governador do estado de Mato Grosso do Sul, visita Okinawa e assina o tratado de co-irmandade com a província de Okinawa na cidade de Naha.
 O estado do Mato Grosso do Sul está localizado na região centro-este do Brasil, fazendo fronteira com a Bolívia e com o Paraguai e a área do estado é equivalente a 157 vezes à área da província de Okinawa. É estimado que, em 2006, o número de japoneses e descendentes residentes na sua capital Campo Grande seja cerca de 20 mil habitantes e dizem que destes, 70% são okinawanos.

A cultura do Okinawa Sobá que se estende pelo mundo

O sobá no Brasil é tão difundido entre os brasileiros a ponto de se referir ao Okinawa Sobá, tendo sido tombado pelo município como Patrimônio Cultural Imaterial em 2006. O gigantesco Monumento ao Sobá colocado na Feira Central se tornou numa aração turística. O Okinawa Sobá se estabeleceu como parte da culinária de Campo Grande, a ponto de realizarem o Festival de Sobá em 2014 para celebrar os 100 anos da imigração okinawana. E em outubro de 2017, o Okinawa Sobá é eleito pela população como o prato típico de Campo Grande.

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